sábado, 28 de abril de 2007

Crônicas do Templo: Parte I - O Conto de St.Clair

Originalmente escrito em setembro de 2006, foi um breve conto sobre as sensações e pensamentos de um cavaleiro templário na época da Primeira Cruzada. O ensaio mostra a dualidade de uma história que era contada e o real que se depara a sua frente, a luta entre fé e razão.
****************************************************
"Estava feito.

Talvez toda minha vida pode ter passado em frente aos meus olhos, assim com tanta força, que senti com toda a certeza de meu coração que um leve movimento podia mudar todo o rumo do futuro. Mas não, não naquele momento. Apenas me limitei a sentar-me sobre uma pedra baixa que ficava ao pé de uma imensa duna, e a fitar a imensidão de almas que haviam caído naquele campo. Os que restaram do meu grupo estavam postos de joelho no chão de areia com suas espadas cravadas ao seu lado direito a rezar, agradecendo a Deus pela vitória concedida.
Havia tempos que tinha deixado os campos verdes da Escócia para me engajar na reconquista da Terra Santa, mas ainda sentia o cheiro do mato fresco e úmido pela manhã gelada. Quando pensei pela primeira vez na Terra Santa, imaginei uma cidade no céu, onde anjos tocavam trombetas e a Glória de Deus era derramada por entre as estreitas vias por onde seu filho havia derramado seu sangue pela Humanidade. Imaginei nuvens que tocavam o chão, raios de Sol que brilhavam intensamente e pessoas livres do pecado do mundo. Mas agora as minhas costas estavam a minha realidade, e a Jerusalém azul de meus sonhos era agora dourada, mas não o dourado dos céus, mas o do deserto e da areia que cobria em volta os muros daquela cidade. As cores verdadeiras agora eu enxergava.
Pensei comigo por um instante porque Deus teria enviado seu filho para um lugar longe, esquecido e perdido pelo homem. Mas nem que minha Fé e meu Conhecimento se unissem por um instante passaria a tentar entender pelo menos um pouco da Vontade de Deus. “Ele age de formas misteriosas”, disse-me um velho cavaleiro hospitalário quando vinha de barco de Constantinopla para cá. Agora entendia que ele agia definitivamente assim, porque nem eu mesmo sabia porque estava lá lutando contra aqueles que nunca fizeram mal, nem mesmo fariam, pois se encontravam a milhares de milhas das pessoas que amo.
Talvez Jerusalém não fosse nada daquilo que tudo que aprendi durante minha vida, ou talvez seria tudo aquilo que representasse a minha existência e eu não podia entender? Quem liga! Debaixo desse sol quente é impossível se pensar em motivos existenciais, mas apenas lutar por aquilo que você veio, tornando os pensamentos da cidade um mero acaso de sua vinda para este lugar.
O mestre agora nos chama de volta para o Templo de Salomão, onde descançaremos e aguardaremos o inimigo que vem do leste, mas na verdade as palavras dele desapareceram na minha mente, perdida pelos pensamentos que levavam-me de volta para casa. Mas não tenho mais ela, não tenho mais meus sonhos lá. Minha vida agora é aqui, e tenho que lutar pela Fé que me criou. As lágrimas me trazem a saudade de quem eu deixei para trás, mas a Glória de Deus segue minha alma e minha espada enquanto agora vejo o sol desaparecer no deserto da Terra Prometida de Nosso Senhor."

Guillaume de SaintClair, 15 de novembro de 1128

Um comentário:

Bruninha disse...

adoreiiiiiiiiiii o contooooooooo...muito bom...
desculpa a falta de criatividade..dessa vez prometo que o proximo eu compenso...
fike com Odin meu caro...
bjus